Contacto (e-mail)

emcondicional@gmail.com

Sugestões

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Estamos sozinhos?

Há dias estava eu a contemplar as pessoas que passavam na rua, quando passaram por mim uma jovem e a sua mãe. Caminhavam lado a lado, aparentemente juntas. Mas algo não estava certo. Nenhuma delas, ao longo dos 200 metros ou mais que pude acompanhar, olhou para a outra ou proferiu qualquer palavra. Olhei com mais atenção e verifiquei que dos ouvidos da filha pendiam uns fios. Estaria seguramente a ouvir música de um qualquer leitor de mp3, iPod ou um outro dispositivo análogo. E, assim, seguiram não muito alegremente lado a lado o seu caminho. E eu pus-me a pensar como duas pessoas podiam estar lado a lado, percorrer o mesmo caminho e, ainda assim, estarem ambas sós. Sim porque mera presença física não é critério suficiente para a definição de "fazer companhia" ou "estar com".



Daí os meus pensamentos derivaram para outras circunstâncias. O anúncio da TMN/moche. Sim, aquele anúncio em que uma miúda é entrevistada na rua sobre se tem ou não um perfil no facebook e quantos amigos tem. A resposta é qualquer coisa como "620 amigos". 620? Amigos? Mas que é isto? NINGUÉM tem (nem o JC, no tempo dele, tinha, como se veio mais tarde a comprovar e ficou registado na história de há cerca de 2.000 anos) tem 620 amigos!!!!! Ou então sou eu que estou parado no tempo ou. outra hipótese, passei para alguma dimensão alternativa em que todos são amigos dos restantes. Mas se assim fôr, todo o significado e carga afectiva da palavra amigo e do respectivo conceito perdem todo o sentido, não sendo mais que meras palavras, conjuntos de letras, sem qualquer significado real. E assim se perde a noção do valor inerente ao que é, de facto, um amigo. O ouro só é valioso devido à sua raridade. Se fosse tão abundante como o granito, mesmo apelando à sua beleza, o ouro nunca seria considerado algo de valor. O mesmo se passa com os amigos. Se forem muitos o seu valor fica dramaticamente reduzido.
Nunca como hoje a capacidade de comunicar a vários níveis foi tão grande. Em segundos enviamos um email com fotos e outros ficheiros anexos para alguém no outro lado do planeta. As pessoas comunicam em tempo real (ou quase) utilizando ferramentas como o messenger. No facebook e noutras redes sociais o acto de "adicionar como amigo" está mais que banalizado. Designa-se como "amigo" alguém que, de facto, não conhecemos, que nunca vimos e que possivelmente nunca iremos olhar nos olhos e dizer "eu sou teu amigo" ou perguntar "tu és meu/minha amigo(a)?". A importância de partilhar o mesmo espaço, de sentir a outra pessoa realmente presente e olhar essa pessoa nos olhos (porque os olhos são a janela da alma) está a cair em perigoso desuso. E por isso, apesar de parecermos todos estar acompanhados, estamos na verdade cada vez mais sós. Aquelas campanhas via email e outros suportes do tipo "ponha o seu nome na lista, ajude as criancinhas em África" não são mais dos que gestos inúteis e vazios que algumas pessoas persistem em imitar e que apenas servem para que pensem "hoje fiz algo bom" quando na realidade se limitaram a perder tempo precioso.
ACORDEM!!!! Larguem o messenger, caguem nos emails da treta, saiam de casa, agarrem-se, beijem-se, falem, olhem-se nos olhos, amem-se e, sobretudo, não desperdicem o vosso precioso tempo num mundo virtual que, no íntimo, sabem ser uma irrealidade...


Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...