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sábado, 24 de outubro de 2009

Energia infinita. Será isso possível?

O Sol é uma gigantesca central nuclear. No entanto, ao contrário das centrais nucleares construidas pelo ser humano, que utilizam a fissão (separação) de núcleos atómicos para obter energia, o Sol utiliza a fusão nuclear.
Embora a física nuclear possa parecer algo de intimidatório de início, os princípios básicos que lhe estão subjacentes são relativamente simples. Senão vejamos:
A fissão nuclear, tal como é utilizada nos reactores das centrais nucleares para produção de energia ou para fazer explodir uma bomba atómica, consiste na colisão de partículas atómicas (neutrões) com átomos radioactivos de Urânio 235. Em determinadas condições, ocorre uma reacção em cadeia que liberta uma enorme quantidade de energia num curtíssimo espaço de tempo. Os efeitos são bem conhecidos por todos. Nagasaki, Hiroshima pela negativa e a produção de energia em larga escala em centrais nucleares para alimentar de uma forma eficiente as cidades em crescimento.


(Fissão nuclear)


Na fusão nuclear ocorre o oposto. Os átomos colidem, fundindo os seus núcleos e dando origem a um elemento químico diferente dos originais. É isto que acontece no Sol, onde átomos de hidrogénio colidem para formar hélio, libertando a energia que recebemos na Terra. O hidrogénio é, assim, o combustível do Sol. Por segundo são queimadas no Sol 4,000,000,000 (quatro mil milhões) de toneladas de hidrogénio!!!


(Fusão nuclear)


A fusão nuclear apresenta várias enormes vantagens relativamente à fissão:
1. O combustível da fissão nuclear é o Urânio 235. É um material radioactivo relativamente raro e que, para ser eficiente em termos de produção de energia, deve ser submetido a processos de enriquecimento em instalações próprias. Por oposição, o combustível da fusão é o hidrogénio. É o elemento químico mais abundante no Universo, estando disponível na Terra em grande quantidade incorporado na água (H2O). A sua disponibilidade é virtualmente infinita. Um reactor de fusão nuclear alimentado a água poderia funcionar durante milhões de anos;
2. A fissão nuclear gera resíduos e detritos de natureza radioactiva, difíceis de eliminar e armazenar em segurança. A fusão nuclear não produz quaisquer resíduos radioactivos ou perigosos ambientalmente. O resultado desta reacção nuclear é pura e simplesmente o hélio que encontramos nos balões da feira;
3. O facto de utilizar material radioactivo como combustível é um risco acrescido, havendo a possibilidade de contaminação ambiental ou de um acidente eventualmente mais grave (quem não se lembra da explosão na central nuclear de Chernobyl na Ucrânia?). No caso da fusão tal risco seria pura e simplesmente inexistente.

Por tudo isto o homem tem procurado obter energia limpa e barata por meio da fusão nuclear. No entanto, como tudo, há desvantagens e problemas a resolver. A fusão nuclear ocorre no Sol e noutras estrelas porque aí as condições de pressão e temperatura (energia) são suficientes para levar os átomos, que naturalmente não se aproximariam, a colidir e a libertar energia. Assim, teoricamente, seria necessário reproduzir na Terra as condições que existem no Sol. O que, como é óbvio e fácil de entender, não é fácil. Existem vários reactores nucleares em funcionamento mas o seu rendimento é negativo, ou seja, a energia necessária para manter o reactor em funcionamento é maior do que a que é produzida.
Na década de 80 Martin Fleischman, Stanley Pons e a sua equipa de cientistas da Universidade de Utah (EUA) afirmaram ter conseguido concretizar o processo de fusão nuclear à temperatura ambiente, o que era visto como totalmente impossível. Fleischman e Pons tornaram-se figuras públicas da noite para o dia, publicaram diversos artigos científicos e muito se escreveu na imprensa sobre o assunto. No entanto, quando cientistas de todo o mundo tentaram repetir a experiência e os seus resultados, nada obtiveram. Fleischman e os seus associados foram desacreditados admitindo posteriormente ter cometido erros experimentais e falsificado, inclusive, alguns resultados. Aquele que é um dos mais ambicionados objectivos científicos, a obtenção de energia praticamente infinita e de forma limpa e barata, parecia mais longe.

No início do século XXI, Rusi Taleyarkhan, na altura a trabalhar no laboratório de Oak Ridge (o mesmo onde foram desenvolvidas as primeiras bombas atómicas), afirmou conseguir obter fusão nuclear a partir de energia sonora. As suas experiências baseavam-se no fenómeno já conhecido e denominado sono-luminescência. Esta consiste em obter luz a partir do som. De facto, sob certas condições, uma bolha de um líquido (pode ser água), bombardeada com ondas sonoras pode, devido à agitação induzida nas partículas, produzir luz. Incrível, não é?
O documentário abaixo, produzido pela BBC (o que é, desde logo, garantia de qualidade) descreve o trabalho e as descobertas de Taleyarkhan, bem como todas as críticas de que, obviamente, foi alvo. A duração do filme é de cerca de 48 minutos. Mas vale a pena.




Taleyarkhan terá ou não sido bem sucedido? Um princípio básico da ciência é a possibilidade de replicação de resultados por outros investigadores o que, aparentemente, não foi conseguido. Terá sido mesmo assim? A verdade é que a competição pela descoberta da energia barata e "infinita" é enorme. Um tal sucesso seria quase como descobrir a cura para o cancro. Milhões de pessoas em todo o mundo seriam beneficiadas, com as condições de vida a nível global a melhorarem de forma significativa. Mas a energia é dinheiro, muito dinheiro. O petróleo, a principal fonte energética, é igualmente fonte de muita riqueza. E provavelmente não chegou ainda a hora em que poderemos alterar este estado de coisas. Interesses muito poderosos, geridos por poucos, sobrepõem-se ao desejo de bem estar e dignidade de muitos. É triste. Mas é a verdade...

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